Quando o céu se faz escuro e a noite cai sobre a cidade, tudo fica diferente, tudo muda enfim. A multidão esconde-se, as portas fecham-se, cerra-se o barulho, descobre-se o silêncio e tudo se transforma no espaço de segundos! Nesses instantes abro o meu livro, ao jeito de quem vai contar uma história... daquelas importantes, daquelas que deixam toda a gente paralisada de tanto encantamento. Mas esta é apenas importante para mim. Esta é a minha história. Não há um outro "eu", não há um "era uma vez", não há um "viveram felizes para sempre". Nessas linhas correm apenas as palavras que contam as venturas e desventuras do meu "eu", do meu "aqui e agora", do meu final inacabado. Esta é uma fábula contada aos soluços, de alguém que segura uma voz trémula, que ampara um livro entre mãos inconstantes e transpiradas, de alguém que desvia o olhar para o céu a cada parágrafo lido...Sentado neste banco, soletro pois ao vento as palavras que desenham a linha da minha vida. Espero, pacientemente, que ele me traga de volta a letra de uma música diferente, que me faça dançar debaixo de um céu estrelado. Ah! Como eu queria que esta noite a minha estrela fosse outra...







Ó noite onde as estrelas mentem luz, ó noite, única coisa do tamanho do universo, torna-me, corpo e alma, parte do teu corpo, que eu me perca em ser mera treva e me torne noite também, sem sonhos que sejam estrelas em mim, nem sol esperado que ilumine do futuro. (do grande Fernando Pessoa)