A LuCiDeZ dA LoUCuRa

A noite já vai longa. Entrei nela sem pressas, nem vagares... Neste lugar tudo se resume de forma muito simples, muito natural. Estou aqui para ela, como ela está para mim. Não me sinto só, estas luzes do luar abraçam-me. Escrevo cada palavra neste bloco de notas, como se amanhã não pudesse mais fazê-lo. O meu coração esta noite é um equilibrista. A luz de cada estrela ilumina o palco. Cada pirueta é realizada num trapézio sem rede. Eu sei que ele pode cair, que se pode ferir de morte, mas prefiro correr o risco. Antes isso, do que dizer um dia que nunca vivi uma noite! Noite escura, que em mim faz luz e faz correr a tinta sobre estas folhas. Noite deserta, que preenche todos os lugares desta plateia, que observa o meu coração a voar lá no alto...
Lá em cima é tudo tão mais fácil. Sem protecção, este coração atira-se, agarra-se a uma qualquer barra, atira-se de novo e volta a pousar sobre uma plataforma. Segura? Talvez, mas apenas até ao próximo número... Depois, depois logo se verá! Valerá a pena arriscar mais uma vez? Vale! Seguramente vale muito a pena! Pela adrenalina, pela excitação, pelas pulsações incertas, pela emoção que transborda de dentro, pela respiração ofegante no final de cada manobra, pelas palmas que premeiam o êxito, pelas lágrimas que possam chorar a tragédia...
Esta linha em que se equilibra não é torta, não tem curvas, é recta, mas nem sempre é mais fiável. É quando se ganha mais balanço, mais velocidade e se correm mais riscos de sair dela e embater com violência no solo. Mas que posso eu fazer, se ele escolheu esta profissão? Diria que é insano, louco... como o dono! Mas nem um, nem outro se importa com isso. Pior seria nunca vê-lo pular, nunca vê-lo fazer loucos saltos mortais, nunca sentir esta vontade.
A noite já vai longa. Já quase não existe. Coloco um ponto no final desta frase. Fecho o bloco. Apagam-se as estrelas, esconde-se o luar. O espectáculo terminou. O artista principal vai dormir!