A LuCiDeZ dA LoUCuRa

Do alto desta colina vejo o mundo de uma forma diversa. Daqui tudo é mais azul, tudo tem outro encanto. Daqui tudo parece mais límpido, mais calmo, mais constante. É boa, boa demais esta sensação! Não contrario este deslumbramento, porque aqui dou e recebo na mesma proporção. Não sou atirado para um canto, nem ignorado, nem humilhado por um qualquer gesto inexistente. Neste cume, cada palavra minha é escutada, compreendida, saboreada, amada... e recebo respostas a todas as minhas perguntas! Neste cume, cada lágrima é enxugada, cada lamento é confortado, com um longo, terno e apertado abraço.
Abro os braços como que para sentir melhor a brisa que me percorre o rosto, acariciando-me, deixando abrir em mim um tímido sorriso. Sinto-me mais leve! Já gritei, já ri, já chorei, já calei... Soltei o que tinha e o que não tinha preso cá dentro. Já olhei o céu, já ouvi o mar, já falei com as árvores que me rodeiam, já sorri para as rochas que suavemente beijam as ondas... Que posso mais eu querer hoje, aqui, no alto desta colina? Aqui toda a inquietação se transforma em paz, todo o ruído se transforma em silêncio, cada choro se transforma em riso. Já não ouço aquela voz na minha cabeça! Parece que se foi... Já não sinto aquela mão que me agarra e me empurra para o precipício... Parece que se esqueceu da minha existência, por momentos...
Fecho as mãos, cerro os punhos e sinto voar de mim todas as palavras que não pronuncio. Repouso sobre esta terra em que estendo o corpo e escuto os versos de um poema escrito por este silêncio!